Destino Natural

E aqui estou eu, mais um dia que passa com a minha vida estancada. E há quantos anos estou assim… a querer viver, e a não o poder. Quantos Domingos jogados fora, na tentativa de melhorar o meu estado de sanidade mental, em vão. E escrevo hoje… escrevo por não ter mais momentos de reflexão. Por cansada estar de tanto pensar e nada encontrar como solução. Quando me levarão de vez para o meu Porto ( de abrigo) ? Aqui estou eu imóvel e intacta, a ver lá fora tudo a crescer e os meus a envelhecerem, mais rápido que esperava.
Não quero escrever para ninguém como alguém faz. Como que por obrigação, para se mostrar útil à vida. Não vivo por viver. Vivo para mim, primeiramente. Quiçá para os outros, noutra vida, já que esta me oculta a tal estabilidade precisa.

E agora que não mais me vejo, quero soltar-me. Ir e não voltar, pois aqui não encontro razão de viver. Abandono esta Natureza prisioneira e desgastada da minha pessoa, para me deixar abraçar por outra de maior graça. E lá está ela, como sempre esteve, à minha espera e de outro, espero. Esse outro que improvavelmente, sempre esteve em espera comigo, irresistivelmente e fatalmente caminhando para mim e para o nosso rio, que nos levará ao nosso mar. Mas não percebo eu o porquê desta contradição; o porquê de estarmos a ir contra a nossa própria e concreta Natureza. Estamos a remar contra a maré! E que mau presságio… Começara no mar, seguindo para o (nosso e deslumbrante) rio… terminando em alguma montanha, a montante deste rio… acabando por secar. Que grotesca fatalidade. E eu que me queria bem, com a Natureza. Assim não a posso compreender. Como posso eu ir contra ela e contra o seu estado natural? Talvez não seja esta a Natureza que, inconscientemente, procuro. Serei capaz, algum dia de aceitar e consciencializar-me de que poderá existir outra natureza de maior importância? Não quero trair a minha, pois bem sei que correrei para ela logo que a outra me fugir. Ainda assim, perante tal traição, a minha é infinitamente generosa e acolhedora, pelo que me receberá de novo, como se eu sempre lá estivesse estado. Deverei arriscar? Como posso eu correr de um mar para um rio e depois para uma montanha, se a minha e desde sempre Natureza me ensinou o percurso contrário? Que crise de lucidez, por fim…
Guiar-me-ei então pelo meu vil destino, ainda que torpe, para poder descartar-me desta responsabilidade intensa. E serei assim capaz de confiar na lógica da minha vida, outrora difundida em prisões e frustrações. Cá estou eu, a um ano e meio de me tornar eu.