Percepção Realista

Há actos que nos consomem, suspiros que nos perturbam.
Pensar no que é o erro é patético. As nossas acções são incontroláveis e mesmo que possamos deter algum critério moral para as avaliar, estas repetem-se vezes sem conta, sem nunca darem a compreender o que por detrás delas estaria, se houvesse uma certeza de força maior. Ultrapassando os mais sóbrios pensamentos humanos, são alvo de enigmas. Escurecem aquilo que outros já chamaram de futuro estável, e tomam conta de nós, sem que para isso, tenham de pedir permissão.
Contudo, pouco nos resta fazer.
Remexer nas opções criadas é a mais terrível fonte de pessimismo.

:19/07/2006

Quimeras?

Certo dia, o destino veio para me dizer que ia sair de mim. Que ia ficar fora de mim; aceitei eu. E eis que surge o pensamento nocturno:
Estou final e oficialmente lançada no mar do desalento. Que poderei eu fazer, se já nem na minha escrita vejo espaço para soltar os terrores aprisionados de outrora, que se reflectem, incessantemente, nas frases devassadas a longas horas de prisão mental. E eu que não posso mais… que não quero, mas que não resisto. Oxalá consiga ver em mim o melhor lado racional e assim, aplicá-lo naquilo que o meu destino dita.
Que fugir este tão fugaz, que lentamente me leva a abrir horizontes confusos e sem rumo estável.
Que quimera insustentável de me querer criar, em sentimentos, como ser superior aos outros, e por isso, ficar estancada no absurdo sossego do meu oculto.
É, por fim, a utopia a consumir-me… a tomar-me como certa; como âncora lançada no mar de perdição.
Heroicamente, conseguirei, talvez, passar por todos estes eufemismos trágicos. Viverei contente, sábia de mim mesma, e dona da minha mente.

Rosa

Hoje o céu está mais azul,eu sinto...
Fecho os olhos. Mesmo assim, eu sinto...
O meu corpo a estremecer.
Não consigo adormecer.

Nem o tempo vai chegar
Para dizer o quanto eu sinto
Você longe de mim.
É uma espécie de dor...

Hoje o céu está mais azul, eu sinto...
Olho à volta. Mesmo assim, eu sinto...
Que este amor vai acabar
E a saudade vai voltar...

Já não sei o que esperar
Dessa vida fugidia...
Não sei como lhe explicar.
Mas é mesmo assim o amor.

Rodrigo Leão

Soturnidade

É o desgaste remanescente
De uma vida atormentada.
Quis curar a minha mente
E em nada fui beneficiada.

Quis os ventos, os mares, e o sol
Todos condensados num só ser.
Logo percebi que estava a lançar-me em prol
De um eterno caminho do esquecer.

E agora que sinto as conchas sobre a areia
Húmida, saturada e molestada
Dos pés da vida
Que nos deixaram que nos apoiássemos,
Mas que também nos travaram muitas vezes o passo
Frágil, incerto, contudo harmonioso.
Sinto-as a indicarem-me o rumo
Que já não urge do vasto mar,
Mas sim do extenso areal
Que continua repousado à espera dos perdidos.

E eu que não me queria encontrada no alto mar.
Só me queria a caminhar
Por aquela areia esbatida
À espera que tu,
Onda minha,
Viesses, por fim, abraçar-me a vida dorida.