Se

pudéssemos

ser

alguém,

seriamos

felizardos

da vida,

nunca

meros



passageiros.

Levada


É segunda-feira de feriado
E a mim só me parece o tenebroso e imóvel domingo.

A água corre agora pelo vidro polido.
Astuta, confiante e certeira.
Gotas de um chuvisco só,
Que me lembram a antiga Maresia.
Gotas de um todo… e eu nem uma parte tenho.
E tanto que queria!
Ver escorregar por mim a gota,
Não de melancolia mas sim de desfecho contente.
Para ver se não andava aos encontrões com a vida,
Como esta chuva anda contra o vidro.

E volta a deslizar pelo transparente vidro do meu quarto,
Esta água desmedida que me oculta a nitidez do que é o meu exterior.
Ai que me aparto!... e já não volto ao que era.
Aguardo a gota que vem em desatino,
E não consigo ver nela a razão da minha espera.

É esta então a claustrofobia vigente.
Nas raízes daquilo que fui com ambição e inconsciente solidão.
É a tremenda saudade que já não pára
E que me quer para encarná-la.

Fugi da vida como o mendigo se esconde da chuva.
E escondida estou naquele que seria, um dia, um abrigo.
Sem perigo, talvez.

Precipitadamente as gotas imobilizaram-se
Na vanguarda de outra rajada.
Esperam soltas, as tórpidas
Por fim, a altura de outra levada.