Soturnidade

É o desgaste remanescente
De uma vida atormentada.
Quis curar a minha mente
E em nada fui beneficiada.

Quis os ventos, os mares, e o sol
Todos condensados num só ser.
Logo percebi que estava a lançar-me em prol
De um eterno caminho do esquecer.

E agora que sinto as conchas sobre a areia
Húmida, saturada e molestada
Dos pés da vida
Que nos deixaram que nos apoiássemos,
Mas que também nos travaram muitas vezes o passo
Frágil, incerto, contudo harmonioso.
Sinto-as a indicarem-me o rumo
Que já não urge do vasto mar,
Mas sim do extenso areal
Que continua repousado à espera dos perdidos.

E eu que não me queria encontrada no alto mar.
Só me queria a caminhar
Por aquela areia esbatida
À espera que tu,
Onda minha,
Viesses, por fim, abraçar-me a vida dorida.

1 comentário:

ag disse...

Porém sabemos nós que quanto mais ambiciamos, mais nos habilitamos a sofrer. Não creio porém que querer esse mar - que tu e eu bem sabemos - tenha sido ambicioso, sejamos nós que afinal não nadamos tão bem, serão os outros que afinal eram realmente mar. E nós só queríamos uma onda, sabendo bem o seu preço, que tanto apreço lhe demos, derrubaram-nos.
Nunca se esquece, se seguimos em frente, porque seguimos, é sem esquecer, se não não seguiamos em frente, seguiamos somente. Talvez um dia isto mude tudo, talvez isto mudará tudo. E talvez seja tarde de mais, ou afinal nunca foi tarde, mas não te esqueças que os sol-pores são lindos no argento.

Acho que percebes o que quero dizer ahahaha. E, asseguro-te, obrigado eu.