Identificação Emotiva

Se pudéssemos nascer vividos, penso que preferíamos aceitar esse dom, em detrimento de acarretar com as aparentes preocupações repousadas. Nasceríamos assim, e continuaríamos a viver assim; envolvidos no ócio que desde sempre nos integrou, mas que por sinal teimamos em suspender, para que, em tempos projectados por nós próprios, consigamos aclamar-nos, também nós, de vividos.
Entretemos, então, a nossa desejada recreação, sem nos convencermos que a partir daí, já não somos nós os entretidos, mas antes a razão que nos guiava, porque no fundo, já não guia. Disfarçamos a nossa formação desintegrada, e desembrulhamo-nos de preconceitos que temos em relação a outrem, pois também nós somos medíocres. Na verdade, também nós queremos chegar à melodia adequada às nossas mentes, que nos afaste de ambientes hostis e nos leve à meta final.
Por fim, nada daquilo que nos parece sensato acaba por nos encher completamente. Apenas esperamos por, um dia, acreditarmos que fomos capazes de nos identificarmos.

1 comentário:

ag disse...

Dizem os expertos que o fogo da vida é o facto de não se ser vivido. A vida é aprender a vivê-la então, mas concordo, se pudessemos escolher, escolhê-la-íamos provavelmente. Mas penso também, que não sei o que é viver, afinal o que é? para quê? sob que premissas, para que intuitos ou intentos? para que fim?
Vivemos aos olhos de nós mesmos mas deixamo-nos tantas vezes achar que sim ou que não, através do julgamento alheio e encostamos o ombro àqueles com quem nos identificamos, sejam os que ''não vivem'' ou os que ''demasiado vivem''. A sensatez, Inês, deve vir de ti, deves ser tu a julgar-te, e por quem te moves, às vezes atiramos areia para os nossos próprios olhos e mentimos, dizendo que é vida. Mas que sei eu da vida. Também já me desprendi dessa sensatez, e já lhe voltei, sem nada mais a acrescentar, se algo, a retirar.

Um beijo.